segunda-feira, 25 de julho de 2011

Amy Winehouse, as drogas e o patrulhamento ideológico

Caros amigos,


É impressionante o patrulhamento ideológico dento de um Instituto Federal possuidor de cursos profissionalizantes mantido pelo governo federal. Ninguém, repito, ninguem mais pode se sentir livre para emitir opiniões, a não ser que sejam as “politicamente aceitas” pelo grupelho de esquerdopatas em permanente plantão.


Pois bem, a ultima destes ocorreu por conta de um comentário que fiz depois da morte a cantora Amy Winehouse em conseqüência do uso de drogas:

“Amy Winehouse morreu... E ainda tem gente que fala que tem uso de droga inocente como se fosse uma marcha pela liberdade. Que liberdade é essa que mata?? Ela foi livre para usar drogas até morrer... Será que os nossos integrantes da "marcha da maconha" lutam para criar este tipo de liberdade, ou prisão sem grades?”


Um dos comentadores teve a coragem de escrever que um dos problemas das drogas é a sua qualidade. Vejam a seguir:

“O uso de drogas sempre andou paralelamente à história da humanidade, não podemos negar. O problema que temos hoje não é com o uso, mas com a qualidade das substâncias que são consumidas por aí. Há usuários de cocaína que não estão consumindo a cocaína somente, mas pó de mármore, altamente prejudicial ao organismo. Há usuários de maconha que não estão consumindo somente maconha, mas outras substâncias desconhecidas que vêm junto com a própria maconha. O problema está no controle de qualidade dessas drogas.”


Que complementa em outro e-mail...

A questão não é levantar bandeira por uma droga "limpa", mas levantar bandeira por uma sociedade mais esclarecida, civilizada e evoluída, menos alienada e pré-histórica.


Um de nossos muitos alunos, munido já de algum discernimento retruca...

“Não sei se o pior é a retórica desesperada do comuna ou a justificativa científica do controle de qualidade das drogas. Recorramos a Crosby e Ishikawa para resolver tal problema. O que tenho certeza é que estou com Lamartine, em busca da volta dos valores familiares dentro dos quais fui criado.”


Pronto. Foi armado o picadeiro onde hoje os defensores desta falsa moral semântica exercem seu patrulhamento. Vejam como um professor se porta “educativamente” frente a uma opinião de que discorda:

Colegas, estou estupefato! O que foi mesmo que eu li? "a retórica desesperada do comuna"? É incrível vermos aqui manifestações de pessoas que parece que se prezam pela truculência!

Depois, não querem que se use a classificação de "direitista" como se não fosse ofensivo! É essa a direita que o Brasil tem, ruim mesmo, sem contribuição positiva a dar, inimiga visceral da democracia! Preconceito, ignorância, má-fé e truculência... é mesmo como a direita tem aqui no Brasil se caracterizado, e são pessoas como nosso colega que têm se empenhado mesmo em tornar o adjetivo "direitista" mais e mais pejorativo.

Com pessoas que se expressam assim, é impossível discutir, buscando resolver, uma questão tão grave como a das drogas e da criminalidade. Essas pessoas também jamais entenderão o que é uma tragédia humana como a dessa moça, bela e triste cigarra, de cuja morte esses moralistas invejosos de sua vida buscam apropriar-se para seus discursos limitados e raivosos. Jamais entenderão - e, no final das contas, é mesmo o interesse em manter a proibição e o lucro imenso que ela traz - que o problema das drogas deveria ser um problema de saúde pública e não de segurança pública. Por pior que seja o efeito do craque, o que mata mesmo é a bala a mando dos traficantes.

"Comuna"!?! Como é que eu estou conversando com uma pessoa que chama assim a seu interlocutor?!?!


Acrescente-se a esta manifestação, o comentário de outro “professor”

É tudo do CCC! Mas esse aluno, é um menino. Pior são aqueles que o influenciaram. Já pensou se esse povo chega ao poder? O que aconteceu na Noruega seria pequeno.


Me senti na obrigação de também fazer comentários, e assim o fiz conforme texto abaixo:



Colegas de boa fé,


Talvez se alguns de nossos colegas Professores e Técnicos Administrativos se interessassem e estudassem um pouco mais como funciona o ser humano ou fossem, honestamente, mais atentos consigo mesmos, perceberiam que esta capa civilizada de polidez e altruísmo, às vezes representados nas palavras rebuscadas ou adocicadas, acabam por mostrar quem são na verdade quando um texto, frase ou mesmo palavra funcionam como "gatilho”, representa o oposto do discurso (ou ideologia) disseminado, adotada muitas vezes como seu próprio. Imediatamente toda aquela educação e gentileza caem por terra evidenciando nos discursos sentimentos de nojo, ódio, vingança, inveja, desejo de destruição e morte simbólica (quando não real) do outro. Um pouco mais de profundidade, certamente evitaria que palpiteiros em plantão permanente atribuíssem ao “recalque” ou a “repressão”, mesmo que por citação, a manifestação (legítima) de pensamentos ou opiniões discordantes, por ignorarem por si próprios o significado mais profundo da dinâmica das energias psíquicas.


Se o conhecimento efetivo de S. Freud ou mesmo Wilhelm Reich pudessem mudar um pouco estes discursos cheios de uma moral indignada e ofendida pela palavra alheia, certamente a defesa por mais disfarçada que seja, de uma ideologia que assassinou mais de 100 milhões de pessoas no mundo, não de inimigos em guerra, mas seus próprios irmãos, de suas próprias nacionalidades, ficaria esvaziada de sentido.


As pessoas que justificam ou de alguma forma apóiam crimes de morte, seja com falso testemunhos ou dando fuga ao criminoso, ou apoio intelectual, etc., são chados de cúmplices. Agora, imaginem o que deve sentir uma pessoa de bem ao descobrir que durante algum tempo se associou como cúmplice de assassinos em massa, defendendo-os, acobertando-os, distorcendo perante a opinião pública a verdade dos fatos praticados, ou as suas idéias? É possível que devessem sentir vergonha de si próprios?


O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão http://www.4shared.com/document/lodFfBUW/O_LIVRO_NEGRO_DO_COMUNISMO_-_C.html , obra coletiva de professores e pesquisadores universitários europeus a maioria comunistas ou ex-comunistas, foi “editado por Stéphane Courtois, diretor de pesquisas do Centre national de la recherche scientifique (CNRS), e seu lançamento ocorreu por ocasião dos 80 anos da Revolução Russa. Este livro faz um inventário da repressão política por parte regimes ditos marxistas-leninistas - incluindo as execuções extrajudiciais, as deportações e as crises de fome”, dá uma idéia quando me refiro a cúmplicidade.


Ainda assim, longe de acreditar em um caso patológico de esquizofrenia, mas alguém que faz esforço para não enxergar que um sistema de idéias e práticas, como o decorrente do marxismo, teve conseqüências desastrosas para a humanidade até os dias de hoje, mas e justifica em função dos benefícios que advirão em um futuro incerto, é uma cegueira que, implantada ou adquirida, beira o crime, quando não, a má fé. Crime, se por uma escolha voluntária e má fé se por ignorância. Esta, graças a Deus, tem cura: estudo e conhecimento.


A este respeito basta ler o artigo QUEM TEM MEDO DA FILOSOFIA BRASILEIRA? que reproduzo em http://joselamartine.blogspot.com/2011/07/quem-tem-medo-da-filosofia-brasileira.html de Ricardo Vélez Rodríguez, coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” e do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da UFJF e verão o que ocorreu (ocorre) no Brasil em que “forças invisíveis” insistem em manter fatos na obscuridade e na desinformação.


O livro "Red Cocaine" do Dr. Joseph D. Douglass (ou pelo menos sua resenha em http://joselamartine.blogspot.com/2011/07/red-cocaine-drugging-of-america-resenha.html que é bacharel, mestre e doutor pela Universidade Cornell onde lecionou e também na Escola de Pós-Graduação Naval e na escola de Relações Internacionais Johns Hopkins. O hoje consultor de assuntos de segurança, com 43 anos de experiência em políticas de defesa, tecnologia e de inteligência, que trabalhou para o governo americano como vice-diretor do Escritório de Tecnologia Tática da Agência de Projetos Avançados e também com vários prestadores de serviços de defesa baseados em Washington, DC e serviu em vários conselhos de ciência e estudos de defesa e até 1990, foi consultor e assessor de várias agências governamentais americanas e de institutos sem fins lucrativos) “traça o quadro geral, dá os antecedentes históricos, apresenta a evolução do planejamento estratégico de longo prazo chinês e soviético quanto ao uso das drogas como arma política e química...” contra a juventude americana e o ocidente a médio e longo prazos, diante de toda a cegueira ocidental, não acidental.


Antes de finalizar, gostaria de alertar aos apressados em atribuir truculência, chamar de direitistas de forma pejorativa (como se liberais, marxista ou petista fossem algo moralmente melhor) e de inimigos viscerais da democracia e até de acusar de preconceito, ignorância, má-fé, aos que de alguma forma emitem opiniões discordantes, fiquem atentos pois este pode ser o velho “efeito espelho” no qual enxergam no outro aquilo que não gostam, e o acusam, mas sem saber que podem estar vendo a si próprios no reflexo e opinando sobre si mesmos.


Mas Karl Marx (e seus seguidores) sempre jogou para o futuro tudo que escreveu falando que a historia o julgaria!!! Covarde!!!


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Prof. José Lamartine de Andrade Lima Neto


domingo, 24 de julho de 2011

Red Cocaine: The Drugging of America - resenha por Henrique Dmyterko

Red Cocaine - The Drugging of America

Red Cocaine: livro impactante, que aborda o uso das drogas na guerra ideológica

Dr. Joseph D. Douglass, Jr é consultor de assuntos de segurança, com 43 anos de experiência em políticas de defesa, tecnologia e de inteligência. Ele trabalhou para o governo americano como vice-diretor do Escritório de Tecnologia Tática da Agência de Projetos Avançados e também com vários prestadores de serviços de defesa baseados em Washington, DC. Serviu em vários conselhos de ciência e estudos de defesa e até 1990, foi consultor e assessor de várias agências governamentais americanas e de institutos sem fins lucrativos.

Recebeu seu bacharelado, mestrado e doutorado da Universidade Cornell. Lá ele lecionou e também na Escola de Pós-Graduação Naval e na escola de Relações Internacionais Johns Hopkins. Foi autor ou co-autor de vários livros e relatórios, alguns secretos. Dentre os acessíveis ao público estão: Soviet Strategy for Nuclear War (Hoover Institute), America, the Vulnerable: The Threat of Chemical and Biological Warfare (Lexington Books) e Communist Decision Making: An Inside View (Pergamon-Brassey’s).

Introdução

O leitor que se debruçar sobre Red Cocaine deverá se preparar de duas maneiras: redobrar a atenção para nomes e datas e certificar-se de que possui um estômago capaz de digerir um detalhadíssimo relatório sobre algumas das mais pérfidas e prolongadas ações perpetradas por regimes e indivíduos em toda a história. O estilo seco, quase monocórdio, de um autor acostumado a análises técnicas minuciosas, não consegue abafar a revolta que se revela através das repetidas menções aos objetivos dos agressores (os traficantes estatais comunistas) tanto quanto através da semi-perplexidade diante da inação e inépcia das autoridades americanas e ocidentais em geral. Red Cocaine traça o quadro geral, dá os antecedentes históricos, apresenta a evolução do planejamento estratégico de longo prazo chinês e soviético quanto ao uso das drogas como arma política e química contra os soldados e oficiais americanos, mas principalmente, contra a juventude americana a médio e longo prazos.
Ao contrário de tantos livros sobre teorias conspiratórias, Joseph D. Douglass, Jr. não apresenta teoria nenhuma, mas sim provas, documentos oficiais de vários países envolvidos, testemunhos de desertores e depoimentos de traficantes em processo de julgamento.

Douglass começa por alertar quanto a um modo de pensar já bastante enraizado, ou seja, de que de um lado haveria apenas os traficantes das Máfias “locais”, organizações inescrupulosas por natureza, e do outro, os usuários de drogas, sem levar em consideração outra possibilidade: a epidemia, ou pandemia das drogas ilegais, como resultado de estratégias de guerra política orquestradas por vários países comunistas contra o Ocidente em geral e contra os Estados Unidos em particular, em combinação com as organizações criminosas locais, com ou sem o conhecimento destas, especialmente quanto aos objetivos estratégicos de longo prazo.

Em seguida, a guisa de introdução mais abrangente, o autor dá uma visão panorâmica dos acontecimentos então recentes, ou seja, as ações cubanas na América Latina, especialmente na Colômbia dos cartéis, já citando a atuação das FARC em conjunto com a política cubana de exportação de cocaína e de outras drogas para os EUA e com isso, o financiamento de ações de movimentos terroristas e revolucionários. O ano era 1989 e George H. W. Bush acabava de assumir a presidência quando decidiu por um plano de ajuda à Colômbia no combate ao tráfico de drogas. Ainda não era o Plano Colômbia, urdido por Bill Clinton e que só beneficiou as FARC em detrimento dos cartéis, como o de Medellín, p.ex.. Mas a Colômbia já estava tão infiltrada e corrompida, que os esforços de Bush pai tiveram resultado quase nulo. Foi necessária a ascensão de Alvaro Uribe para que o quadro mudasse, mas isso está além do escopo temporal do livro. De todo modo, a coordenação cubana do tráfico de drogas na América Latina e desta para os EUA, já é um quarto estágio, ou degrau, na estratégia comunista de guerra política via drogas. Vamos às origens.

As Origens da Estratégia Comunista de Guerra Política Via Drogas

Foi a China comunista que primeiro percebeu o potencial da disseminação de drogas derivadas do ópio (morfina e heroína) como armas tão ou mais eficazes que fuzis ou morteiros. No início dos anos 1950, Mao Tse-tung e Chou En-lai se encarregaram pessoalmente de planejar o que viria a ser um grande esquema de tráfico de drogas, vendidas a preço baixo para os soldados americanos na Coréia, no Japão e em Okinawa. O Partido Comunista Japonês teve participação, tanto na coleta de informações repassadas aos comunistas chineses, como financeira, na forma de pagamento pelos “serviços”. Comentários sobre as operações ou a simples menção dos planos chineses era motivo para execução sumária, mesmo de generais, tamanho o grau de segredo que os comunistas chineses deram à execução de seus intentos. Os objetivos chineses eram basicamente os seguintes:

1. Com o dinheiro do tráfico, financiar atividades subversivas no exterior;

2. Corromper e enfraquecer o moral dos povos do mundo livre;

3. Destruir o moral das tropas americanas que lutavam na Coréia (e depois, no Vietnã).

Outro detalhe importante do esquema chinês era a cooperação, ou coordenação de outros países sob sua esfera de influência. Isso trazia várias vantagens, sendo uma delas o fato de que isso desviava o foco de atenção da China para a Coréia do Norte ou para o Vietnã do Norte; outra vantagem era a ampliação dos campos de produção de ópio, ainda que os principais e melhores ficassem em território chinês. Tudo isso teria o efeito de confundir os serviços de inteligência americanos e de outros países do Ocidente. Houve também muito trabalho e cuidado no desenvolvimento de heroína da melhor qualidade, i.e., com maior poder de adicção. A droga era passada aos soldados americanos através dos conhecidos traficantes locais e de prostitutas aliciadas ou chantageadas. Prisioneiros de guerra americanos e sul-coreanos foram usados como cobaias para experimentos de drogas mais refinadas e potentes, além de testes de resistência física, quando se verificou que eram justamente os bem jovens os mais propensos às overdoses.

No caso da Indochina, os chineses tiveram como primeiro alvo as tropas francesas, e obtiveram grandes êxitos: o número de soldados franceses que abandonaram seus postos ou pediram baixa já como farrapos humanos, foi estarrecedor. Oficiais franceses, quando começaram a receber ajuda material americana, repassaram a seus colegas as informações que tinham sobre as drogas e o envolvimento chinês. Os oficiais americanos, ainda em pequeno número, repassaram relatórios alarmantes aos serviços de inteligência, mas nenhuma política efetiva de contenção ou enfrentamento jamais foi tomada.

Mas já antes do envolvimento americano na Indochina, outros já estavam muitíssimo bem informados das atividades chinesas, pelas quais demonstravam grande interesse e entusiasmo: as lideranças do PCUS – Partido Comunista da União Soviética. Após a morte de Stalin em 1953, foi possível uma reaproximação da URSS com a China, pois os interesses comuns e a afinidade ideológica eram absolutamente óbvios. Os soviéticos, especialmente Nikita Khruschev, estavam fascinados com as possibilidades da guerra política através das drogas. Numa reunião do Partido, questionado sobre a moralidade do uso de drogas como arma, Khruschev respondeu que qualquer coisa que causasse dano aos capitalistas e avançasse a revolução era moralmente justificado.

Mas os soviéticos ainda precisavam aprender algumas coisas com os chineses, que se mostraram relutantes em cooperar plenamente. Sem maior cerimônia, os russos cooptaram agentes chineses ligados ao tráfico e passaram, a partir dali, a desenvolver seus próprios métodos, muito mais amplos e sofisticados. Todavia, é importante ressaltar que a estratégia soviética de guerra revolucionária é uma estratégia global, que envolvia desinformação, engodo e propaganda. A estratégia de narcotráfico soviética é um sub-componente dessa estratégia e é mais bem compreendida nesse contexto.

Tanto quanto a China fez uso de outros países, a URSS optou pela Tchecoslováquia para dar início ao seu plano de ampliação da guerra via drogas. Mais tarde, outros satélites soviéticos participariam das operações, especialmente a Bulgária, mas em meados dos anos 1950, a Tchecoslováquia era a mais bem equipada tecnicamente, além de ter a grande vantagem de manter boas relações comerciais e diplomáticas com vários países ocidentais, o que facilitaria a coleta de dados e o estabelecimento de redes de agente e colaboradores locais.

Para tornar a Tchecoslováquia um subordinado eficaz na guerra política via narcotráfico, os soviéticos transferiram a membros selecionados dos serviços de inteligência e do Partido tchecoslovaco, planos de cursos que instruíam sobre:

1. Natureza do comércio de drogas, tipos e qualidades;

2. Meios de produção;

3. Organização da produção;

4. Mercados e consumidores;

5. Segurança;

6. Infiltração nas redes de produção existentes;

7. Uso da experiência das redes de inteligência;

8. Comunicação no interior das organizações de tráfico;

9. Como transmitir informação;

10. Como recrutar fontes de inteligência.

O primeiro nível estratégico da guerra contra o Ocidente envolvia o engodo, a desinformação e a propaganda. O segundo nível pretendia a destruição do capitalismo com seu próprio dinheiro gasto em drogas. Quando do sucesso das duas primeiras etapas, viria então a terceira: o rolar dos tanques soviéticos sobre a Europa.

À medida que cresciam as operações de tráfico do bloco soviético, a organização tornou-se mais complexa, mas com o mesmo grau de segredo e compartimentalização (“saiba somente o que é necessário saber”) Muitos estavam envolvidos, mas poucos sabiam do propósito da operação ou nem mesmo da participação e coordenação soviética.

Praticamente todos os dados apresentados no livro de Douglass acerca da guerra política dos soviéticos provêm da extraordinária memória de um homem: Jan Sejna, que desertou da Tchecoslováquia para os Estados Unidos em 1968. Mas o General Jan Sejna não era um desertor comum e muito menos uma fonte comum. Ele foi membro do Comitê Central do PC Tchecoslovaco, da Assembléia Nacional e do Presidium. Foi também membro da Administração Política Principal e membro do Departamento de Órgãos Administrativos e primeiro secretário do partido no Ministério da Defesa, onde também foi chefe do estado-maior. Sua posição mais importante foi a de secretário do poderoso Conselho de Defesa, que era o mais alto corpo decisório em questões de defesa, inteligência, política externa e economia. Sejna era um oficial e funcionário do mais alto escalão, com acesso a informações sobre planos e operações ultra-secretos. Ele se encontrava regularmente com os mais altos funcionários da União Soviética e de outros países comunistas. Mas Sejna parece não ter tido muita sorte na escolha do momento para desertar, pois foi muito mal recebido nos EUA, que já no primeiro mandato de Richard Nixon, não parecia quere ouvir nada que atrapalhasse a pretendida détente (distensão) com os países do Leste Europeu e com a China. Henry Kissinger veio a ter papel importante na negação das evidências e indícios coletados pela inteligência americana ou por aliados e corroborados por Sejna.

De qualquer maneira, muitos analistas e agentes de órgãos da inteligência americana o ouviram e lhe deram crédito. Se nenhuma ação eficaz foi empreendida no sentido de combater a política soviética e chinesa, é assunto que será analisado mais à frente.

Segundo Sejna, um dos objetivos de longo prazo do plano estratégico comunista era a destruição das religiões tradicionais: Cristianismo, Islã, Judaísmo e Budismo. Porém, nas etapas iniciais e intermediárias do plano, e especialmente na América Latina, os padres católicos deveriam ser cortejados e cooptados para a revolução. De acordo com o General Sejna, as projeções soviéticas indicavam que 80% dos padres latino-americanos eram antiamericanos (dados de 1967), 60% tinham tendências políticas de esquerda e 65% (especialmente os padres mais jovens), usavam algum tipo de droga. Os soviéticos acreditavam que esses padres jovens teriam grande influência nos vinte anos seguintes e havia três razões para trabalhar com eles: para ajudar a avançar a revolução, para usar a Igreja Católica na distribuição de drogas e para usá-los na obtenção de informações adicionais acerca das redes de tráfico já existentes.

Cuba e o Narcoterrorismo na América Latina

A porção tchecoslovaca da operação soviética começou em 1960, em duas frentes: Ásia (Indonésia, Índia e Burma [Mianmar]) e América Latina (Cuba). Cuba tinha e tem especial relevância para o crescimento do fluxo de drogas ilegais para os Estados Unidos.

Entre agosto e setembro de 1960, apenas um ano e meio após Fidel Castro ter tomado o poder, seu irmão Raúl Castro visitou a Tchecoslováquia em busca de assistência militar. Naquela época, Fidel e os soviéticos nutriam desconfiança mútua e foi este o motivo da aproximação via Tchecoslováquia. Sejna foi o responsável por receber a delegação cubana e atuar como anfitrião. Mas uma de suas primeiras ações foi arranjar um encontro com Khruschev. Logo após a visita, os soviéticos instruíram os tchecoslovacos a trabalhar com os cubanos, mas sem que estes soubessem do papel soviético. Muitos agentes da KGB se fizeram passar por assessores militares ou técnicos da Tchecoslováquia. O objetivo era duplo: não deixar que Fidel soubesse da infiltração e não levantar suspeitas entre os americanos.

Cuba e Tchecoslováquia logo fizeram um acordo de cooperação e assistência militar (treinamento e equipamento) e ajuda na organização dos serviços de inteligência e contra-inteligência cubanos. Mais da metade dos instrutores “tchecoslovacos” eram, na verdade, soviéticos.

Uma das principais tarefas era aumentar o potencial cubano na produção e distribuição de drogas para os Estados Unidos, especialmente via México e Canadá. No México, a Tchecoslováquia já tinha desenvolvida uma excelente rede de agentes. Ao longo dos anos, o México se tornou a principal rota de entrada de narcóticos nos EUA, com a cumplicidade de autoridades locais corrompidas com o dinheiro das drogas, num círculo literalmente vicioso. Com o passar do tempo, cerca de trinta por cento de toda a droga que entrava nos EUA passou a ser através do México. O estabelecimento de redes de agentes no México e no restante da América Latina seguiu um mesmo padrão no mundo todo: corrupção por dinheiro, chantagem, dependência das drogas ou afinidade ideológica, ressalvando-se que a URSS nunca aparecia, mas apenas seus subordinados, o que tornou Cuba uma peça chave na operação estratégica junto aos EUA.

A DGI (Dirección General de Inteligencia) cubana acabou completamente subordinada à KGB entre o final de 1968 e o início de 1969, segundo o general Sejna. O entusiasmo de Fidel Castro pelo plano de narcotização da juventude americana era tão grande que os russos tiveram que refreá-lo, temendo uma exposição de seu próprio papel. Mais controlada, Cuba passou a ser, então, responsável pela coordenação do tráfico de drogas para os EUA, além de coordenar o apoio a grupos terroristas da América Latina. Fidel e Raúl Castro estão diretamente envolvidos nessa dupla coordenação. Além de Sejna, várias fontes (agentes do DGI que desertaram nos anos 1980, traficantes que receberam imunidade para testemunhar, etc.), confirmam o papel de Cuba, de Fidel e de Raúl Castro. Entre os países citados como componentes do esquema de produção ou de redes de agentes, estão: México, El Salvador, República Dominicana, Nicarágua, Panamá, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Brasil, Chile, Argentina, Peru, etc. A destruição dos filhos da “burguesia” através da drogas, especialmente os estudantes nas universidades e o financiamento e coordenação de movimentos antiamericanos ou revolucionários, era o objetivo principal, além da arrecadação de vultosos fundos para realimentar as ações de subversão. No Chile do início dos anos 1960, o então senador Salvador Allende era um entusiasta do plano cubano-soviético.

Nos EUA, especialmente durante a Guerra do Vietnã, parte do imenso volume do dinheiro das drogas foi utilizada no apoio a movimentos pacifistas, anti-guerra nuclear, etc., seguindo o mesmo padrão de infiltração e manipulação nos campi universitários, mas também na imprensa e TV. Foram as drogas, em oferta maciça, que alimentaram o clima de desencanto e a busca por mais drogas, e não a guerra. A mídia americana em geral, quer por ignorância, arrogância ou colaboracionismo, encarregou-se de disseminar justamente a versão mais conveniente aos planos comunistas. Além disso, qualquer pessoa que possua os mais elementares conhecimentos de economia sabe que é a oferta que cria a demanda, e não o contrário. Em outras palavras: já havia o consumo de drogas nos países alvo antes do início das operações soviéticas ou chinesas, mas estas ofertaram uma quantidade de drogas tão grande e a preços relativamente baixos, que o resultado não poderia ser outro que não a explosão do consumo e do número de dependentes, multiplicando os ganhos políticos e financeiros da guerra política via drogas

A Colômbia, México, Panamá, Bolívia e Peru merecem destaque, cada um por oferecer uma vantagem específica. Dentre estes, Colômbia, México e Panamá viriam a desempenhar papéis-chave. Por sua enorme fronteira seca com os EUA, pela fragilidade do sistema político, que por sua vez tornava as autoridades judiciais e policiais alvos fáceis de chantagem ou de corrupção, o México tornou-se rota livre para as drogas e quase todas as ações de repressão ao tráfico, ou eram boicotadas e reveladas com antecedência, ou eram simplesmente de fachada. A Colômbia é outro capítulo especial, em função dos infames cartéis da droga (Medellín, Cali) e de nomes como Pablo Escobar. É importante notar que o plano cubano-soviético não fazia distinção quanto aos parceiros úteis: os cartéis não tinham nenhuma afinidade ideológica com os movimentos revolucionários ou com o comunismo, mas o lucrativo negócio das drogas exigia que fizessem política de boa vizinhança com os terroristas, (M-19 e depois as FARC), fornecendo-lhes armas em troca de proteção e informações, estas repassadas pelos soviéticos, via DGI. O mesmo pode ser dito da Máfia, na Europa ou nos EUA. Para os cartéis e para as máfias, era apenas uma forma de incrementar os negócios e para isso não precisavam nem queriam saber quem poderia estar fornecendo a inteligência de várias operações internacionais. Para os soviéticos, tal desinteresse era mais do que apenas conveniente.

Os primeiros passos da ajuda americana para a Colômbia foram dados em 1989, pelo presidente George H. W. Bush (Bush pai), com o envio de dinheiro e ajuda militar para o combate aos cartéis. Ainda não era o Plano Colômbia de Bill Clinton (que também só visava combater os cartéis e não os narcoterroristas). Mas isto escapa à análise contida na 1ª edição do livro, que pára em 1989.

O papel do Panamá é entendido melhor quando o autor, Joseph Douglass, Jr., analisa a passividade e a incompetência do governo americano no combate à estratégia soviética.

A Inação Americana

Já nos anos 1950, Harry Anslinger, Comissário do Governo dos Estados Unidos para Narcóticos trabalhava duro para convencer seus superiores de que a China comunista, e não a Máfia, era a força principal no tráfico de drogas: “O maior traficante é Pequim, e não a Máfia”. Anslinger forneceu ampla base de dados ao Congresso americano e também à ONU. Mas em 1962, o governo americano parou de dar atenção e publicidade ao assunto. Havia pessoas interessadas em cultivar boas relações com a China comunista. Portanto, talvez não seja coincidência que em 1961, ano em que Anslinger se aposentou, o pessoal pró-China bandeou-se para o Departamento de Estado (que é a burocracia que de fato executa a política externa americana).

O autor de Red Cocaine fez uso extremamente hábil de um exemplo célebre para ilustrar tanto as inexplicáveis ações da burocracia americana como para demonstrar a validade das avaliações apresentadas pelo General Sejna, que havia desertado em 1968.

Em 1969, o presidente Richard Nixon declarou guerra às drogas. Uma das primeiras ações foi a de identificar as fontes do problema. Num desses esforços, analistas da CIA começaram a examinar o tráfico que emanava do Sudeste da Ásia. A partir de uma enorme quantidade de detalhes coletados de variadas fontes, foi desenhado o mapa da região denominada “Golden Triangle”, considerada a principal fonte de drogas. O triângulo incluía partes da Tailândia, Burma (Mianmar), Laos, e especialmente a província de Yunan, na China comunista. O triângulo está apresentado em linha cheia na figura mais adiante. Essa avaliação é idêntica àquela apresentada por Sejna, esta baseada em estudos da inteligência tchecoslovaca e soviética.

Triângulo das drogas na fronteira chinesa: exemplo de manipulação para evitar um conflito com os comunistas

Em 1970, o mapa foi repassado para o Bureau de Narcóticos e Drogas Perigosas, antecessor da DEA (Drug Enforcement Agency). Meses depois, uma nova versão do mapa emergiu da Casa Branca. O “novo” triângulo agora era aquele representado pela linha descontínua. De uma penada, a China comunista saiu do Golden Triangle. À época, o funcionário encarregado de presidir o Comitê de Narcóticos era Henry Kissinger, mas este raramente aparecia nas reuniões e demonstrava pouquíssimo interesse pelo assunto. O General Alexander Haig normalmente presidia as reuniões e se esforçava para abafar os esforços daqueles que tentavam combater o comércio de heroína.

Quando o Departamento de Defesa começou a usar aviões de reconhecimento para identificar campos de plantação de papoula na região, Kissinger determinou a interrupção dos vôos, para que estes não ameaçassem a política de détente (distensão) com a China.

Segundo o autor, análises independentes indicam que, apesar da boa vontade de vários presidentes americanos, a começar por Nixon, o combate ao tráfico de drogas foi minado desde dentro, pela burocracia e por funcionários do alto escalão. O problema das drogas foi usado para erguer um império de poder e influência dentro da administração, provocar uma avalanche de manchetes manipuladas na mídia e fornecer as justificativas para a organização de uma política nacional antidrogas orientada a partir da Casa Branca, que na verdade, seria usada para objetivos políticos internos. Houve ordens expressas para que cessassem todas as manifestações e relatórios que mencionassem a China comunista como envolvida no tráfico de drogas. Além disso, segundo Douglass, funcionários de alto escalão já tinham um histórico de fazer uso do problema das drogas para ganhos políticos pessoais.

Um outro exemplo de clamorosa estupidez, dificuldade de comunicação ou de escandalosa má-fé fornecido pelo autor de Red Cocaine é o episódio da deserção do coronel da inteligência búlgara, Stefan Sverdlev, em 1970, quando ele trouxe documentos do governo búlgaro que comprovavam o envolvimento deste no tráfico internacional de drogas. A CIA confirmou a Bulgária como novo centro de distribuição de drogas e armas. E, no entanto, um outro departamento do governo americano mandou funcionários a Sofia, capital da Bulgária, para estabelecer cooperação aduaneira no combate ao tráfico de drogas! Somente em 1981 os americanos chegaram à conclusão de que a cooperação búlgara não era lá muito eficaz. Mas pior do que isso é que o treinamento americano em técnicas de identificação de narcóticos se estendeu à China e também a países do Leste Europeu.

Os Bancos, Lavagem de Dinheiro e Outros Interesses Escusos

Durante o breve escândalo búlgaro, a revista Forbes publicou matéria revelando que a lavagem do dinheiro do tráfico da Bulgária era facilitada pelos bancos suíços Credit Suisse e UBS. Absolutamente nenhuma medida de ordem prática foi tomada contra esses bancos. E é neste ponto que o livro parece revelar outro tom, sem perder a linha analítica: é o tom da indignação mal disfarçada, da frustração e do desalento diante do avanço literalmente incontido das drogas nos Estados Unidos e no Ocidente em geral. Douglass deixa claro que não havia como ignorar a imensidão de dados levantados pelas próprias agências do governo, especialmente pela NSA e por alguns setores da CIA e da DEA. Ele faz questão de frisar que havia gente trabalhando sério no combate ao tráfico, ao ponto de serem torturados e assassinados - tal como o agente da DEA, Enrique “Kiki” Camarena, assassinado no México por policiais corruptos, sem que ninguém fosse punido –, mas que dentro dessas mesmas agências e nos Departamento de Estado e do Tesouro havia um muro de resistência a qualquer investigação ou ação mais direta quanto à lavagem de dinheiro e rastreamento de recursos financeiros que saíam ou entravam nos EUA. E os valores são altíssimos: no início dos anos 1980, estimava-se que cidadãos americanos gastavam entre US$80 bilhões e US$110 bilhões por ano com drogas ilegais. No final da década, esses valores chegavam a US$300 bilhões, enquanto os gastos mundiais chegavam a US$500 bilhões. Algumas estimativas apontavam o valor de US$ 1 trilhão. O autor ressalta que há uma lei americana que ‘obriga’ os bancos a relatar saques e depósitos superiores a dez mil dólares. Muitas instituições financeiras foram investigadas e acusadas de operações de lavagem de dinheiro. Um banco foi acusado de cometer dezessete mil violações da lei federal de transações em espécie. Mas houve pouquíssimos indiciamentos ou aplicações de multas pesadas. Tampouco foi dada muita publicidade ao assunto. Mas o autor, ironicamente, ressalta: não há negócio no mundo que gire US$ 500 bilhões ao ano e que não tenha a ativa e bem informada assistência de bancos e instituições financeiras.

Ramon Milian Rodriguez, um dos responsáveis pela lavagem e investimentos dos recursos do Cartel de Medellín, foi preso nos EUA em maio de 1983. Em 1988, diante de uma Comissão do Congresso, relatou aos senadores John Kerry (Democrata) e Alphonse D’Amato (Republicano) de que forma, com a assistência das Forças de Defesa do Panamá, ele transferiu enormes quantias através dos bancos do Panamá, já então um paraíso fiscal criado com o beneplácito do governo e dos bancos americanos, e como era cortejado pelos bancos de Nova York. Segundo Rodriguez, “os bancos de Nova York não são bobos... o tempo todo sabiam com quem estavam lidando”. Os bancos apontados por Rodriguez compunham uma espécie de who’s who das altas finanças dos Estados Unidos: Citibank, Bank of America e First National Bank of Boston. Já a rede de TV ABC identificou o Citibank, o Marine Midland (de propriedade de banqueiros chineses de Hong Kong), o Chase Manhattan (dos Rockefeller) e o Irving Trust, além da maioria dos 250 bancos e sucursais de bancos estrangeiros em Miami como envolvidos na lavagem de dinheiro das drogas.

Além da lavagem de dinheiro, esses bancos americanos, acrescidos de instituições financeiras do Japão, Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental, Itália, França e Suíça fizeram vultosos empréstimos a países do Terceiro Mundo produtores de ópio ou coca e também a países do bloco soviético, que por sua vez, coordenavam o tráfico. Encorajar exatamente esse tipo de transações comerciais e financeiras foi um dos principais objetivos políticos sob Lenin, Stalin, Khruschev, Brezhnev e, é claro, Gorbachev. Mas encorajar tal atividade tem sido também um dos maiores objetivos da política externa americana desde 1969. O que o livro não consegue esclarecer é se os bancos e grandes empresas é que encorajam essa política do Departamento de Estado ou é este que incentiva a aqueles.

Outro padrão verificado por Douglass é o do péssimo tratamento dispensado a desertores de alto-escalão do bloco soviético por parte de setores da CIA, Departamento de Estado e imprensa. O que aconteceu com o General Sejna, que foi desprezado, achincalhado, humilhado e caluniado, não foi muito diferente daquilo que aconteceu ao estrategista e analista da KGB, Anatoliy Golitsyn e ao general romeno Ian Pacepa. Além de desacreditá-los sem razão aparente, veiculando aquilo que os soviéticos mesmos diziam a respeito desses “vilões desertores”, grande parte dos serviços de inteligência dos EUA parecia não ter a menor idéia da importância das informações estratégicas que tais homens lhes forneciam.

O autor coloca em dúvida a possibilidade de que tanta hostilidade a quem trazia informações vitais para a segurança e o futuro dos EUA, somada às estranhas políticas de inteligência e de relações exteriores americanas, seja mera coincidência. Um relatório do Departamento de Estado, de setembro de 1988, declarava: “Acreditamos que nossa estratégia internacional... esteja funcionado”. Douglass ironiza: “Se está funcionado, é forçoso perguntar: para quem?”. Mais enfático ainda foi o Dr. Jeffrey Eisenach, da Heritage Foundation: “[No futuro] a política americana quanto às drogas permanecerá o que é hoje: uma gigantesca negação de responsabilidade”.

O Crack e as “Designer Drugs”: Violência Urbana, Drogas Sintéticas de Alta Potência e o Futuro

O autor faz um breve relato sobre aparecimento do crack nos EUA no início dos anos 1980 e de sua rápida disseminação pelo mundo, incluindo o Brasil [o crack é um potente derivado de uma forma de pasta de coca, chamada de base livre, liberada quando fumada]. Seu poder de “adicção” [do inglês addiction], ou viciador, é multiplicado e há casos de dependentes a partir da primeira vez que fizeram uso da droga.

Ao contrário da cocaína, o crack é uma droga barata, vendida em regiões pobres dos grandes centros urbanos. Nos EUA, imigrantes jamaicanos, haitianos e negros americanos, dominam ou disputam o controle da venda, mas também do consumo. Nas palavras do especialista americano M.M. Kirsch, o marketing do crack “é direcionado aos jovens e ignorantes”. Além disso, o crack está associado a comportamento violento. O grande número de assassinatos em disputas de traficantes, ou de viciados, em função de pequenas dívidas com os traficantes é dado comum aos EUA e ao Brasil, p.ex. O que o autor parece querer deixar claro é que a estratégia de longo prazo das drogas, do ponto de vista comunista, não se restringe aos danos às classes médias e altas, às “elites”, mas procura destruir o tecido social inteiro dos países alvo. Nos EUA, uma grande conflagração social e étnica via guerra de gangues já é vista em capítulos diários. No Brasil, a situação não envolve origens étnicas, mas a violência resultante do tráfico do crack é igual ou maior. Para aqueles que apreciam algum grafismo na linguagem, a estratégia comunista é destruir a pirâmide social dos países alvo minando a base e corroendo o topo.

Já nos caso das drogas sintéticas modernas, isto é, pós anos 1960, os objetivos eram de obter drogas de altíssima potência e de dificílima detecção, quer em buscas ou em exames toxicológicos. Um resultado secundário dessa alta potência é a multiplicação dos lucros. Em números aproximados, um “investimento” de US$2 mil em heroína pura renderia algo próximo a US$ 1 milhão nas ruas. O mesmo investimento de US$2 mil em produtos químicos e equipamentos renderiam um quilo de 3-metil fentanil [3 mil vezes mais forte do que a morfina] aproximadamente US$1 bilhão nas ruas.

Também notável, segundo Douglass, é a facilidade que os traficantes têm na obtenção de produtos químicos produzidos por grandes empresas; produtos que poderiam ser facilmente controlados pelas agências americanas, européias e japonesas. A pergunta que ele faz é simples: por que não o são?

Quanto ao futuro, o autor demonstra um misto de desalento, considerando a total ineficácia e pura politicagem da maioria das ações governamentais americanas no combate às drogas, e esperança. Esta última vem de algumas relativamente recentes iniciativas de divulgação das origens do problema através da mídia. O que ele pensa ser imprescindível é tirar a população da letargia, ou seja, que essa deixe de acreditar nas declarações perfunctórias acerca da “guerra às drogas” e comece a cobrar resultados. Mas para isso é preciso informação, é preciso saber quais são os inimigos de verdade. Não é possível lutar contra fantasmas.

Nesse sentido, Red Cocaine presta um enorme serviço: informa, prova, esclarece e indica caminhos. Mas se um relatório técnico, minucioso ao ponto de fazer referências cruzadas entre capítulos, detalhista e riquíssimo em citações e fontes de referência, pode ser também um poderoso grito de alerta, então seu nome é Red Cocaine.

Red Cocaine: The Drugging of America* [Cocaína Vermelha: A Narcotização da América]**

Autor: Joseph D. Douglass, Jr.
Editora: (1ª edição), Clarion House, Atlanta, 1990. 280 páginas
(2ª edição), Edward Harle, 1999.
* O título da segunda edição é: Red Cocaine: The Drugging of America and the West
** O título em português é meramente ilustrativo. Não há edição brasileira.

Fonte - http://www.midiaamais.com.br/resenhas/52-red-cocaine-the-drugging-of-america

sábado, 23 de julho de 2011

Separação entre ciências e humanidades

CONVERSA DE CANTINA - IFBA
Ronaldo F. Cavalcante
Crônicas baseadas em conversas na cantina da escola.

Conversa de Cantina n. 58


Ainda convalescente da última intervenção médica ("intervenção" aí é uma palavra suave para "introduções perfuro-cortantes violentas") tenho passado minhas horas lendo a Intranet da nossa escola e confesso que ainda não entendi essa dicotomia, que julgo exagerada, em torno dos cursos integrados ao nível médio, e estou aberto à explicações para melhorar esse entendimento. Para ler na íntegra vá para O MEDO



Prof. Ronaldo,


Como sempre brilhante com as palavras. Mesmo tendo optado pelo Científico, tem todas as habilidade de quem escolheu o Clássico ou o Normal.


Fico muito triste por ainda ter alcançado um pouco desta fase que descreveu, mas já com perda de algumas disciplinas, e que hoje, depois de tanto estudo, corremos o risco de termos alunos pior preparados.


A separação entre ciências e humanidades, nunca vai ocorrer espontaneamente. Nunca com estes professores formados a partir do final dos anos 1960/70 e que formaram professores que formam professores, se tentacularizando gramscianamente em todos os espaços da sociedade brasileira, difundindo o mesmo tipo de pensamento doutrinário marxista.


O artigo QUEM TEM MEDO DA FILOSOFIA BRASILEIRA? de Ricardo Vélez Rodríguez da uma idéia disso.


Parabéns pelo texto e pelo humor uma vez que também estou na fila e com o olhar cabisbaixo de boi no matadouro.


Um abraço


sexta-feira, 22 de julho de 2011

MARCHA À RÉ!!! de Carlos Vereza

O país das "marchas...", da Maconha...das Mulheres vadias...Parada Gay, e não ocorre a ninguém organizar a marcha contra a corrupção; a marcha pelo ensino básico; pela abertura dos documentos sigilosos; por uma acareação entre Mercadante, Ideli Salvati, e o funcionário que participou da reunião com os dois para a "elaboração" de um dossiê falso contra José Serra!

Uma cortina de mentiras ocupa o poder. O marketing de um país de "todos" devora verbas inacreditáveis numa esquizofrenia que se reflete nos juros mais altos do planeta, em obras sem licitação, tráfico de influência, e a previsivel repetição de escândalos semanais!

E os mafiosos, Dirceu, Franklin Martins, e Lula, principalmente, "orientando" o biombo- Dilma, completamente atônita, sem saber que rumo imprimir a um governo à deriva!

Nenhum projeto a não ser o da permanência indefinida no poder! A luta antropofágica da "base aliada" por cargos, o "fogo amigo do PT" minando o que possa restar de autoridade da Dilma, que não é nenhuma "vitima", pois todo o esquema era de seu conhecimento!

Criou-se a burguesia sindical sem obrigações de prestar contas de seus gastos: a verdadeira elite que conta com a total cumplicidade de Lula, mais preocupado com suas "palestras", não por coincidência, com empresas que têm relações mais que "amistosas" com o governo!

Em pouco teremos a marcha final: a da insolvência do Brasil!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

DEUS É CULPADO? (debate pela intranet - professores e alunos)

Em 7 de julho de 2011 10:04,

*DEUS É CULPADO? *

Em entrevista na TV Americana, A filha de Billy Graham estava sendo entrevistada no Early Show e Jane Clayson perguntou a ela:

-Como é que Deus teria permitido algo horroroso assim acontecer no dia 11de setembro?

Anne Graham deu uma resposta profunda e sábia:

“ Eu creio que Deus ficou profundamente triste com o que aconteceu, tanto quanto nós. Por muitos anos temos dito para Deus não interferir em nossas escolhas, sair do nosso governo e sair de nossas vidas. Sendo um cavalheiro como Deus é, eu creio que Ele calmamente nos deixou. Como poderemos esperar que Deus nos dê a sua bênção e a sua proteção se nós exigimos que Ele não se envolva mais Conosco?

À vista de tantos acontecimentos recentes; ataque dos terroristas, tiroteio nas escolas, etc... Eu creio que tudo começou desde que Madeline Murray O'hare (que foi assassinada), se queixou de que era impróprio se fazer oração nas escolas Americanas como se fazia tradicionalmente, e nós concordamos com a sua opinião.

Depois disso, alguém disse que seria melhor também não ler mais a Bíblia nas escolas... A Bíblia que nos ensina que não devemos matar, roubar e devemos amar o nosso próximo como a nós mesmos. E nós concordamos com esse alguém.

Logo depois o Dr. Benjamin Spock disse que não deveríamos bater em nossos filhos quando eles se comportassem mal, porque suas personalidades em formação ficariam distorcidas e poderíamos prejudicar sua auto estima, (o filho dele se suicidou) e nós dissemos: "Um perito nesse assunto deve saber o que está falando". E então concordamos com ele.

Depois alguém disse que os professores e diretores das escolas não deveriam disciplinar nossos filhos quando se comportassem mal. Então foi decidido que nenhum professor poderia tocar nos alunos... (há diferença entre disciplinar e tocar).

Aí, alguém sugeriu que deveríamos deixar que nossas filhas fizessem aborto, se elas assim o quisessem. E nós aceitamos sem ao menos questionar.

Então foi dito que deveríamos dar aos nossos filhos tantas camisinhas quantas eles quisessem para que eles pudessem se divertir à vontade.

E nós dissemos: ‘Está bem!’

Então alguém sugeriu que imprimíssemos revistas com fotografias de mulheres nuas, e disséssemos que isto é uma coisa sadia e uma apreciação natural do corpo feminino.

Depois uma outra pessoa levou isso um passo mais adiante e publicou fotos de crianças nuas e foi mais além ainda, colocando-as à disposição da Internet. E nós dissemos: ‘Está bem, isto é democracia, e eles têm o direito de ter liberdade de se expressar e fazer isso.’”

“Agora nós estamos nos perguntando por que nossos filhos não têm consciência e porque não sabem distinguir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, porque não lhes incomoda matar pessoas estranhas ou seus próprios colegas de classe ou a si próprios... Provavelmente, se nós analisarmos seriamente, iremos facilmente compreender: nós colhemos aquilo que semeamos!!!

Uma menina escreveu um bilhetinho para Deus: ‘Senhor, por que não salvaste aquela criança na escola?’

A resposta dele: ‘Querida, não me deixam entrar nas escolas!’” Com certeza não será por força da lei que Deus entrará nas escolas.

A Bíblia não tem valor algum deixada numa estante empoeirada ou aberta sobre um pedestal, em casa ou na biblioteca da escola.

Fará alguma diferença se usarmos nosso livre arbítrio para lê-la, estudá-la e aplicar seus valores universais em nosso dia-a-dia.

O amor ao próximo, a tolerância e o perdão nunca fizeram mal a ninguém, mas estão mesmo raros.

Atte.,

P.



Caros,


Sou católica, e desejo chamar atenção para um detalhe: o texto fala em Deus, não em Cristo, embora em determinado momento se refira à Bíblia, que também, e me corrijam se estiver errada, já foi partida e repartida, interpretada e reinterpretada entre diversas religiões.


Se a maioria das religiões são monoteístas, então concluo que todos oram para o mesmo Deus, diferindo apenas na forma que rendem graças a Ele, ou então não poderiam acreditar de fato em um único Deus, ou em um único Cristo (para os que O reconhecem, como eu).


Falando em Cristo, lembro de ter dito que o reino dEle não é desse mundo. Dessa forma consigo compreender melhor a existência de tanto sofrimento e a importância da oração e da pregação. Mas também lembro de ter dito "A César o que é de César" e dessa forma compreendo a posição de Tássio, pela mesma razão que não gosto de ir à missa e ver o padre usar a homilia para falar de política. A própria Igreja Católica tem outros fóruns para isso.


Penso que a retirada da Bíblia e das orações das escolas deve ter sido uma reação à “dominação” de determinadas religiões como a minha própria. Se não fosse assim, talvez nem tivéssemos tantos Pastores. Ateus, então, nem se fala. Sou de um tempo em que praticamente se era católico “de nascença”, embora poucos fossem praticantes.


Em meu entender, o maior problema não está na retirada da Bíblia, das orações e das aulas de Religião das Escolas (será difícil evitar a tentativa de “dominação” de alguma, já que são professadas por seres humanos), mas dos valores universais de nossas próprias casas, de nossas vidas pessoais, de nossa educação doméstica. Aí sim, imbuídos dos já citados amor ao próximo, tolerância e perdão, (independe por qual Religião ou fora dela) é que traremos, a meu ver, melhores condições de convivência com a diversidade, inclusive dentro das Escolas.


Saudações,


Prof. E. S.

Campus Salvador



Colegas e alunos,


Lamentavelmente alguns setores de nossa Instituição, e este espaço em particular, vem sendo inundada com tantas informações contraditórias perante os saberes, práticas e crenças das famílias e destes que aqui estudam ou trabalham, que deve gerar a maior confusão no seu seio familiar, em relação ao que estão aprendendo. Mais uma vez o “discurso do especialista”, dita a norma de como pensar e proceder através da construção das "cercas" do politicamente correto, da apologia à novidade, da substituição dos princípios como caridade, perdão, respeito ao próximo, não roubar, não matar, não desejar o que é do alheio, etc.


A este respeito me pergunto o que esta nova religião do Estado laico, que tudo pode, tudo controla e tudo normatiza, uma verdadeira onipresença e onisciência, tem a oferecer?


Por detrás disso tudo temos a influencia dos novos “pastores” desta igreja (Estado) que com suas novas e diferentes massas de fiéis dizem ao alto clero o que é bom para suas novas ovelhas.

Em nenhum momento vi qualquer preocupação em saber o que as "ovelhas" ou suas famílias pensam disso tudo. Me parece que não é necessário pois do alto da arrogância acadêmica "laica" dita-se as novas formas do que é certo ou errado.


Os "bispos" que estão nas academias brasileiras formando novos "pastores" dizem que a história foi feita de um jeito. Alguns de nós, que não viveram aqueles momentos tomamos muitas vezes estes escritos como uma verdade dogmática, inquestionável e com isso vai-se propagando inverdades que, se não desmentidas, assumem ares de realidade.


A este respeito publico um texto de um ex-ativista político estudantil na epoca da 1964 chamado Heitor De Paola, médico psiquiatra e psicanalista no Rio de Janeiro, membro da International Psychoanalytical Association alem de ter vários trabalhos publicados no Brasil e exterior. Escreveu um esclarecedor documento chamado “Desfazendo alguns mitos sobre 64” disponibilizado no link a seguir

http://joselamartine.blogspot.com/2011/04/desfazendo-alguns-mitos-sobre-64.html


Este mesmo autor com sua experiência pessoal e profissional nos esclarece sobre algo que nosso sistema de desinformação, eficiente e competente como é não consegue apagar, mas as provas estão aí a olhos vistos. Tem uma frase atribuída a Groucho Marx, genial humorista americano acerca da capacidade dos mentirosos convencerem os incautos e desinformados com sua retórica, que é assim: “voce vai acreditar no que estou dizendo ou nos seus próprios olhos?”.


Informem-se


Parabens pela coragem para falar no que acreditam.


A MÍDIA E O MODO COMUNISTA DE PENSAR

por Heitor De Paola*


Resumo: O fenômeno que ficou conhecido como “revolução gramcista” foi bem

sucedido porque há muitas pessoas ávidas por encontrar um meio simplista e

esquemático de fingir que pensa.


http://blog.anatolli.com.br/2009/08/09/a-midia-e-o-modo-comunista-de-pensar/


* Médico Psiquiatra e Psicanalista no Rio de Janeiro. Membro da

International Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer

House Foundation, Berkeley, Califórnia, e Delegado Internacional no Brasil

do Drug Watch International. Possui trabalhos publicados no Brasil e

exterior.


Abraços

--

Prof. José Lamartine de Andrade Lima Neto


QUEM TEM MEDO DA FILOSOFIA BRASILEIRA?

QUEM TEM MEDO DA FILOSOFIA BRASILEIRA?
Ricardo Vélez Rodríguez

Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.
Coordenador do Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da UFJF.
rive2001@gmail.com

Utilizo, para este comentário, título que o mestre Antônio Paim pôs em circulação lembrando Virgínia Woolf, para identificar as mazelas que, no final do século passado, infernizavam a vida de quem se dedicasse ao estudo da nossa cultura filosófica. A situação, como os leitores poderão observar, não mudou muito de 1990 para cá.

Aconteceu, na seara da filosofia, estranho fenômeno de colonialismo cultural que foi, progressivamente, extinguindo tudo quanto, no nosso país, cheirasse a estudo do pensamento brasileiro ou à consolidação de uma filosofia nacional. Os artífices dessa façanha (ocorrida nas três últimas décadas do século passado) foram os burocratas da Capes no setor da filosofia, comandados pelo padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz. Os fatos são simples: no período em que o general Ruben Ludwig foi ministro da educação, ainda no ciclo militar, os antigos ativistas da Ação Popular Marxista-Leninista receberam, à sombra do padre Vaz, a diretoria dos conselhos da Capes e do CNPq, na área mencionada. Especula-se que o motivo da concessão fosse uma negociação política: eles prometiam abandonar a luta armada. A preocupação dos militares residia no fato de que foi esse o único agrupamento da extrema esquerda que não se organizou explicitamente em partido político.

Os grupos da denominada "direita" (conservadores, ultraconservadores, liberais, liberais-sociais, etc.), toda essa imensa gama, ficou do lado de fora dos favores oficiais, no período militar e após.

De um lado, os militares, de uma forma bastante imprecisa, identificavam como perigosos não apenas os ativistas da extrema-esquerda, mas também todos aqueles que se apresentassem como liberais (lembrar as referências do general Golbery à ideologia liberal, como contrária aos interesses do país, o que explica as cassações de liberais linha-dura como Carlos Lacerda, ou os preconceitos contra social-democratas como Juscelino). Os restantes grupos da denominada "direita" terminaram sendo exorcizados das benesses oficiais, em decorrência do patrulhamento dos ativistas de esquerda, que foram beneficiados pelo regime. Prova documental importante é constituída pelo artigo de Aramis Millarch [“Délcio explica quem são os senhores da direita”, O Estado do Paraná, 28/12/1980, p. 10], que resenha livro publicado em 1980, do jornalista Délcio Monteiro de Lima, intitulado: Os senhores da direita [Rio de Janeiro: Editora Antares, 168 p.]. O saco de gatos é grande: vão para o mesmo balaio ativistas da TFP, antigos integralistas, conservadores e até os membros do staff da Revista Convivium e a entidade que lhe dava sustentação, Convívio - Sociedade Brasileira de Cultura.

A discriminação foi feita, notadamente, pelo pessoal da Ação Popular, através da Capes e do CNPq. Um exemplo: quem tiver produção científica publicada na Revista Convivium, não pode (ainda nos dias que correm) registrar, no Lattes, essa publicação como "artigo científico publicado em revista com corpo editorial". Embora a mencionada revista possua ISSN (0102-2636), o sistema Lattes simplesmente ignora a tal revista, e a produção tem de ser classificada como publicada em magazine. Pequena retaliação, mas que mostra a que ponto chegou o patrulhamento ideológico (e, evidentemente, orçamentário). Isso sem falar na perseguição da CAPES, explícita e atual, contra os cursos de mestrado e doutorado em filosofia brasileira, que foram sendo extintos, um a um, por pressão do MEC, entre 1979 e 1999. Caíram, sucessivamente, na guilhotina ideológica oficial, o programa de mestrado em Filosofia Brasileira da PUC do Rio, o programa de mestrado e doutorado em Filosofia Luso-Brasileira da Universidade Gama Filho, bem como o programa de mestrado em Filosofia Brasileira da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Sorte semelhante tiveram programas considerados “de direita”, como o mestrado em Estudo de Problemas Brasileiros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Isso aconteceu numa conjuntura internacional em que outros países como Espanha, Portugal, México, Argentina e Colômbia passaram a valorizar de forma muito clara o estudo das respectivas filosofias nacionais, como forma de ocupar um lugar no mundo globalizado. Portugal, que não tinha cursos para o estudo da filosofia autóctone, criou esses programas em 1986, com apoio do Curso de Mestrado e Doutorado em Filosofia Luso-Brasileira da Universidade Gama Filho (extinto em meados dos anos 90).

Outra retaliação contra os estudiosos da filosofia brasileira: a Revista Brasileira de Filosofia, fundada por Miguel Reale em 1949, que recebia uma pequena verba do Ministério da Cultura, para custear postagem dos exemplares destinados a bibliotecas e universidades, teve esse auxílio sumariamente cortado pelo ministro Francisco Weffort (no segundo governo de FHC). Detalhe: as revistas Brasileira de Filosofia e Convivium foram, no século passado, as duas mais importantes publicações brasileiras na área da filosofia e das humanidades (a Revista Brasileira de Filosofia completa, em 2009, os seus 60 anos, e a Convivium chegou pertinho dos quarenta, pois foi publicada, ininterruptamente, com periodicidade bi-mensal, entre 1962 e 2000).

A retaliação dos burocratas contra quem queira estudar filosofia brasileira não conseguiu, contudo, desestimular as novas gerações. São inúmeras as iniciativas empreendidas por estudantes e professores, em prol do estudo da cultura nacional no terreno das idéias filosóficas. Sem mencionar projetos consolidados no século passado (como a criação, pelo professor Antônio Paim, do Centro de Documentação doPensamento Brasileiro em Salvador, Bahia, na década de 1980), seria grande a lista das iniciativas em curso. Menciono apenas cinco:

1) O Núcleo de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos da Universidade Federal de Juiz de Fora se dedica, desde 2003, ao estudo da história das idéias filosóficas no Brasil e na América Latina e publica a Ibérica – Revista Interdisciplinar de Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos [www.estudosibericos.com].

2) A Universidade Federal de São João Del Rei, através do Departamento de Filosofias e Métodos, passou a sediar, desde 2006, os Colóquios Luso-Brasileiros de Filosofia, promovidos pelo Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (com sede em Lisboa); nesse primeiro ano foi realizado, na mencionada Universidade, o VII Colóquio e, no decorrer de 2009, em Setembro, será realizado o VIII Colóquio, sob a coordenação do prof. dr. José Maurício de Carvalho.

3) O Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” publica, na Universidade Federal de Juiz de Fora, o portal Defesa, dedicado ao estudo e à divulgação do pensamento estratégico brasileiro [www.defesa.ufjf.br]. Este Portal constitui, hoje, um dos principais veículos de divulgação dos estudos estratégicos existentes no Brasil, com aproximadamente 30 mil acesso por mês.

4) O Núcleo de Estudos de Filosofia Brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenado pelo prof. dr. Paulo Margutti, promove a pesquisa sobre a história das idéias filosóficas no Brasil, contando atualmente com mais de dez pesquisadores da UFMG, bem como da Faculdade dos Jesuítas de Belo Horizonte.

5) O Centro de Estudos Filosóficos de Londrina, criado em 1989 pelo professor Leonardo Prota realizou, ao longo dos anos 90 do século passado, sete Encontros Nacionais de Professores e Pesquisadores da Filosofia Brasileira, com apoio da UEL. A publicação das Atas dos mencionados Encontros constituiu realização editorial das mais importantes no estudo da filosofia brasileira, em confronto com outras filosofias nacionais.

Em boa hora o Clube da Aeronáutica, sob a competente coordenação do Cel Av Araken Hipólito da Costa e com a colaboração da Academia Brasileira de Filosofia, desenvolve ampla programação de estudos humanísticos e de resgate do estudo do pensamento nacional. Esta iniciativa vem se somar às já mencionadas e revela a vitalidade que a filosofia brasileira está a manifestar neste início de milênio.

O anúncio de Olavo Bilac

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